terça-feira, dezembro 14, 2004

"Drowning the fever of her hands to sunlight"

vendes-me o sono em troca de um pouco de dedicação, que, só por ordem do acaso ou pedido do propósito, é o máximo de dedicação que consigo desferir a alguém. assim vês que tens precisamente o melhor de mim, a nata dos meus dias, enquanto tento esconder-te o pesar das noites

sobra-me tempo para te entregar e nenhum para os mortais, tenho amigos que entram por todas as minhas portas e sequer lhes concedo uma conversa, mando-lhes calorosos abraços e beijos cordiais pelo correio, a ti quero-te dentro de todos os meus livros, sendo que as histórias que conto são escritas na minha própria pele, seca, frágil, mas de forças renovadas sempre que a consegues tocar, toca-me outra vez

sinto-me desfalecer de cansaço apesar de tudo, as noites estouram-me porque não te tenho a fechar-me os olhos para que me esqueça das sombras na parede

transformo-me numa falena, sobrevoo-te, pouso em ti e todos me olham e te invejam, não consigo perceber porquê, a ingenuidade é leviana, a crueldade é sublime

apercebo-me da tua inércia, eu sei que merecia o mundo, quase me irrito